quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Psiu
Está frio, está mesmo frio.
Frio e escuro, como no fundo de uma caverna, quando tudo o que se cheira é rocha e tudo o que se ouve é um tremor. Dói-me a cabeça. É nestas alturas que penso que o coração não fica onde dizem que fica, porque sei que me dói o coração.
Não, não sei há quanto tempo, o tempo aqui não existe. O tempo é para quem tem esperanças ou medos ou dinheiro a render no banco. Não, quando só se sente não há tempo, porque todo o sentimento é perpétuo, toda a dor, demasiada, a mais pequena, infinita. Transborda-me, corre-me pela cara abaixo, desliza-me pela boca fora, move-se pelos nervos nos meus dedos.
Escrevo como quem distribui panfletos. Não, ninguém te viu. Ninguém te viu. Eu sei, eles não entendem que me abandonas um pouco mais em cada lágrima, apanhas um pouco mais de ti do ar, entranhas-te mais uma vez nos meus poros. Mas eles não sabem porque não limpo as lágrimas.
"Já está quase? Ainda falta muito?"
Imagino que te ris, como água fresca de um ribeiro a cair nas folhas sonolentas, de manhã. Ris, com todos esses sons de terra e nuvem e champanhe e piano e cogumelo, olhando de esguelha desde o outro lado da sala, gozando-me subtilmente a inocência infantil. "Está quase", formam impacientemente os teus lábios, vestidos de vermelho, para depois se espreguiçarem num sorriso reguila. Provocam-me. Num amuo quase divertido, encosto-me a um canto, passo a mão pela cara, crescida da barba, assento-a depois no bolso do meu blazer, numa pretensa sobriedade que pretendo sensual. Aborreço-me, levanto-me, dou uma volta. Percorro as pessoas, como livros pousados, cada um na sua estante de biblioteca, acompanhados de outros do mesmo assunto ou do mesmo valor. Têm pó, têm páginas soltas, são amarelados ou gordos ou magros, com títulos a ouro ou escritos a lápis. Sempre me soube a saber ler. Desde então, li sempre, por vezes compulsivamente. Desde a leviandade das bandas desenhadas à erudita complexidade das grandes obras, soube seguir o caminho inverso, das letras à caneta; da caneta ao dedo, ao pulso, cotovelo, mais rápido, tão rápido que a próxima paisagem que distingo é aquela que se esconde na própria essência da alma onde, por fim, deleito os olhos e me extasio. De alma em alma, de livro em livro, sem esquecer nunca aquele estranho. Onze passos, ao fundo, à esquerda, prateleira do meio. Que estranho título compõem as letras na capa, em voltas e contra-curvas que nunca vi, produzindo significados que posso apenas quase imaginar. Olho-o atentamente, horas a fio, de fio a pavio, de olhar vazio. E fica frio, e aborreço-me da sala, e faço birra.
Cai uma lágrima. Num soluço, o cheiro do livro, um riso quente salpica-me.
Num orgulho funguento do choro, envergonhado e já bem disposto, estava só a brincar.
"Mas a sério, ainda falta muito?"
Até logo :)
Frio e escuro, como no fundo de uma caverna, quando tudo o que se cheira é rocha e tudo o que se ouve é um tremor. Dói-me a cabeça. É nestas alturas que penso que o coração não fica onde dizem que fica, porque sei que me dói o coração.
Não, não sei há quanto tempo, o tempo aqui não existe. O tempo é para quem tem esperanças ou medos ou dinheiro a render no banco. Não, quando só se sente não há tempo, porque todo o sentimento é perpétuo, toda a dor, demasiada, a mais pequena, infinita. Transborda-me, corre-me pela cara abaixo, desliza-me pela boca fora, move-se pelos nervos nos meus dedos.
Escrevo como quem distribui panfletos. Não, ninguém te viu. Ninguém te viu. Eu sei, eles não entendem que me abandonas um pouco mais em cada lágrima, apanhas um pouco mais de ti do ar, entranhas-te mais uma vez nos meus poros. Mas eles não sabem porque não limpo as lágrimas.
"Já está quase? Ainda falta muito?"
Imagino que te ris, como água fresca de um ribeiro a cair nas folhas sonolentas, de manhã. Ris, com todos esses sons de terra e nuvem e champanhe e piano e cogumelo, olhando de esguelha desde o outro lado da sala, gozando-me subtilmente a inocência infantil. "Está quase", formam impacientemente os teus lábios, vestidos de vermelho, para depois se espreguiçarem num sorriso reguila. Provocam-me. Num amuo quase divertido, encosto-me a um canto, passo a mão pela cara, crescida da barba, assento-a depois no bolso do meu blazer, numa pretensa sobriedade que pretendo sensual. Aborreço-me, levanto-me, dou uma volta. Percorro as pessoas, como livros pousados, cada um na sua estante de biblioteca, acompanhados de outros do mesmo assunto ou do mesmo valor. Têm pó, têm páginas soltas, são amarelados ou gordos ou magros, com títulos a ouro ou escritos a lápis. Sempre me soube a saber ler. Desde então, li sempre, por vezes compulsivamente. Desde a leviandade das bandas desenhadas à erudita complexidade das grandes obras, soube seguir o caminho inverso, das letras à caneta; da caneta ao dedo, ao pulso, cotovelo, mais rápido, tão rápido que a próxima paisagem que distingo é aquela que se esconde na própria essência da alma onde, por fim, deleito os olhos e me extasio. De alma em alma, de livro em livro, sem esquecer nunca aquele estranho. Onze passos, ao fundo, à esquerda, prateleira do meio. Que estranho título compõem as letras na capa, em voltas e contra-curvas que nunca vi, produzindo significados que posso apenas quase imaginar. Olho-o atentamente, horas a fio, de fio a pavio, de olhar vazio. E fica frio, e aborreço-me da sala, e faço birra.
Cai uma lágrima. Num soluço, o cheiro do livro, um riso quente salpica-me.
Num orgulho funguento do choro, envergonhado e já bem disposto, estava só a brincar.
"Mas a sério, ainda falta muito?"
Até logo :)
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Calei-me
Cala-te
Eis que se vê um poeta acorrentado.
Calado, ainda que não possa ser calado.
De pensamento livre e atrevimento esgotado.
Indigno de de poeta ser apelidado.
Houveram de crescer escrúpulos ao poeta dedicado.
O seu fado.
Pelo fado de terceiros, tornou-se mal fadado.
Um enfado.
O cérebro desperdiçado.
O coração, ainda um furo abaixo de repenicado.
Ai, pobre bicho acagaçado.
Poeta serás, talvez; foste, com certeza, no passado.
Por agora és um bocado virgulado.
Não estás despedido, estás desvinculado.
Se é para eufemismos baratos, pá, está calado.
Até logo :)
Eis que se vê um poeta acorrentado.
Calado, ainda que não possa ser calado.
De pensamento livre e atrevimento esgotado.
Indigno de de poeta ser apelidado.
Houveram de crescer escrúpulos ao poeta dedicado.
O seu fado.
Pelo fado de terceiros, tornou-se mal fadado.
Um enfado.
O cérebro desperdiçado.
O coração, ainda um furo abaixo de repenicado.
Ai, pobre bicho acagaçado.
Poeta serás, talvez; foste, com certeza, no passado.
Por agora és um bocado virgulado.
Não estás despedido, estás desvinculado.
Se é para eufemismos baratos, pá, está calado.
Até logo :)
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Experiência
Vou experimentar uma coisa que é para conhecerem um bocadinho mais de mim.
A partir de hoje, no meu blog, vai haver sempre uma música cantada por mim (peço desculpa, prometo que não ponho, auto-play LOL).
Depois, se não gostarem da ideia, digam que eu tiro.
Até logo.
P.S. o volume tem que ser bem alto para se ouvir, sim?
A partir de hoje, no meu blog, vai haver sempre uma música cantada por mim (peço desculpa, prometo que não ponho, auto-play LOL).
Depois, se não gostarem da ideia, digam que eu tiro.
Até logo.
P.S. o volume tem que ser bem alto para se ouvir, sim?
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Há um anito...
Um texto de uma amiga (sim, claro) minha fez-me lembrar de uma coisa que escrevi faz já algum tempo. I still believe :)
Como é possível que não haja corda tão grande como a que nos separa e, ainda assim, eu esteja tão preso?
Porque é que o mundo não violou a lei das probabilidades (puquê?), só desta vez, para estares assim pertinho de mim? Tão pertinho que não tenho que te imaginar, só ver-te. Eu quero ver-te tão, tão profundamente que não deixes espaço para mais nada, e eu serei feliz assim.
Quero que apareças, quero encontrar-te no sítio mais inesperado, desejar-te até não conseguir mais. Depois chorar por ti até desidratar, olhar para ti até gastar a cor dos olhos. Depois, só depois, falar contigo, só depois o teu cheiro, só depois, talvez, tocar-te, talvez beijar-te.
Mesmo que depois me tirem os olhos, ainda hei-de ver-te, não imaginar, saber-te na minha mente; sentir-te no meu coração.
Eu sei que és mentira, sei que me gozas, no abrigo da tua inexistência temporária, mas quero-te. E vou querer-te muito mais, quando deixares de inexistir. Mas não existas, não saias desse limbo, não agora. A razão não me deixa amar o que não conheço. Mas amo.
Então, espera. sei que também estás, talvez noutra dimensão, por agora, à minha espera. Mas tem paciência. Ensinaram-me, um dia, que a paciência é uma das mais difíceis virtudes, mas também das mais compensadoras.
Por isso, espera um pouco, ou espera muito tempo. Mas deixa-me crescer, deixa-me estar preparado para ti. Prepara-te para mim. Vive tudo o que quiseres, melhor, vive quase tudo o que quiseres e um pouco do que não queres, está bem, princesa?
E, entretanto, nunca te esqueças que te amo, mesmo que o ignores; nunca te esqueças que me amas, mesmo que o escondas. Porque, um dia, vamos estar juntos.
E, ainda assim, porque escrever é deixar marcado para a existência, escrevo. Escrevo porque já te amo.
Como é possível que não haja corda tão grande como a que nos separa e, ainda assim, eu esteja tão preso?
Porque é que o mundo não violou a lei das probabilidades (puquê?), só desta vez, para estares assim pertinho de mim? Tão pertinho que não tenho que te imaginar, só ver-te. Eu quero ver-te tão, tão profundamente que não deixes espaço para mais nada, e eu serei feliz assim.
Quero que apareças, quero encontrar-te no sítio mais inesperado, desejar-te até não conseguir mais. Depois chorar por ti até desidratar, olhar para ti até gastar a cor dos olhos. Depois, só depois, falar contigo, só depois o teu cheiro, só depois, talvez, tocar-te, talvez beijar-te.
Mesmo que depois me tirem os olhos, ainda hei-de ver-te, não imaginar, saber-te na minha mente; sentir-te no meu coração.
Eu sei que és mentira, sei que me gozas, no abrigo da tua inexistência temporária, mas quero-te. E vou querer-te muito mais, quando deixares de inexistir. Mas não existas, não saias desse limbo, não agora. A razão não me deixa amar o que não conheço. Mas amo.
Então, espera. sei que também estás, talvez noutra dimensão, por agora, à minha espera. Mas tem paciência. Ensinaram-me, um dia, que a paciência é uma das mais difíceis virtudes, mas também das mais compensadoras.
Por isso, espera um pouco, ou espera muito tempo. Mas deixa-me crescer, deixa-me estar preparado para ti. Prepara-te para mim. Vive tudo o que quiseres, melhor, vive quase tudo o que quiseres e um pouco do que não queres, está bem, princesa?
E, entretanto, nunca te esqueças que te amo, mesmo que o ignores; nunca te esqueças que me amas, mesmo que o escondas. Porque, um dia, vamos estar juntos.
E, ainda assim, porque escrever é deixar marcado para a existência, escrevo. Escrevo porque já te amo.
Miguel de Miguel
bonitos tempos.
Até logo :)
Até logo :)
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