para que nunca nos tornemos demasiado líricos.
A JÓIA DO SENHOR ABADE
“Perdoe-me, senhor abade, que pequei.
Fui com ele atrás do monte, onde a minha mana vai,
E, imagine, ao sentar-me, encostei
O tornozelo ao menino de seu pai.”
“Ó menina de tua mãe, meu incólume tesouro.
Estou certo que da tua candura feliz
Nunca há-de ter brotado senão o mais puro decoro.
Mas que mais? Conta sem demora, diz…”
“Depois, eu tinha um bicho no pescoço
(pelo menos, foi isto que ele me disse).
Senti então o toque leve do moço…”
“Cabrão do puto, já cheio de manhosice!…”
“Como disse, senhor abade?”
“Nada, filha, continua.”
“E o bicho andou do pescoço para a bochecha,
E para o ombro, para a frente e para trás…”
“E então?!”
“Vai daí que julgo que foi esta a deixa
Para o… menino de seu pai se tornar num robusto rapaz…”
“Cruzes credo, abrenuncia, olhos meus!
Filha, espera, senta-te no meu regaço.
É que, se tanto mais perto estás de Deus,
Tanto mais sentes crescer o meu… embaraço.”
“E, a seguir, deu-me um beijo na orelha
Como quem colava um selo, com profundeza.
E disse-me que se, eu gostava dos meus brincos,
Era por não lhe conhecer a pendureza.
Ora, senhor padre, quero que entenda
Que com os brincos de minha avó ninguém se mete.
Pedi-lhe que então que resolvesse a contenda,
Quis estudar essa tal peça tão coquete.”
“Ai menina dos meus olhos, inocência,
Que a cada folgo me deixas mais indignado.
Tu respondes com toda a benevolência
E ele mostrou-ta, esse desavergonhado?”
“Sim, e aí disse eu num tom enojadiço:
- Essa a jóia não é nenhuma raridade.
O primo Manel tem uma, o dobro disso,
E tem uma em miniatura, o senhor abade!”
Fui com ele atrás do monte, onde a minha mana vai,
E, imagine, ao sentar-me, encostei
O tornozelo ao menino de seu pai.”
“Ó menina de tua mãe, meu incólume tesouro.
Estou certo que da tua candura feliz
Nunca há-de ter brotado senão o mais puro decoro.
Mas que mais? Conta sem demora, diz…”
“Depois, eu tinha um bicho no pescoço
(pelo menos, foi isto que ele me disse).
Senti então o toque leve do moço…”
“Cabrão do puto, já cheio de manhosice!…”
“Como disse, senhor abade?”
“Nada, filha, continua.”
“E o bicho andou do pescoço para a bochecha,
E para o ombro, para a frente e para trás…”
“E então?!”
“Vai daí que julgo que foi esta a deixa
Para o… menino de seu pai se tornar num robusto rapaz…”
“Cruzes credo, abrenuncia, olhos meus!
Filha, espera, senta-te no meu regaço.
É que, se tanto mais perto estás de Deus,
Tanto mais sentes crescer o meu… embaraço.”
“E, a seguir, deu-me um beijo na orelha
Como quem colava um selo, com profundeza.
E disse-me que se, eu gostava dos meus brincos,
Era por não lhe conhecer a pendureza.
Ora, senhor padre, quero que entenda
Que com os brincos de minha avó ninguém se mete.
Pedi-lhe que então que resolvesse a contenda,
Quis estudar essa tal peça tão coquete.”
“Ai menina dos meus olhos, inocência,
Que a cada folgo me deixas mais indignado.
Tu respondes com toda a benevolência
E ele mostrou-ta, esse desavergonhado?”
“Sim, e aí disse eu num tom enojadiço:
- Essa a jóia não é nenhuma raridade.
O primo Manel tem uma, o dobro disso,
E tem uma em miniatura, o senhor abade!”
Miguel de Miguel
Até logo :)
6 comentários:
o pior é que esta vaca está sempre à minha beira ahaha :b
obrigada por teres passado por cá Miguel (:, e ainda bem que gostaste :$
ps. ahah este post está demais xD
Até logo
morri. LOL. tu sabes
caíram-me os dentes...
obrigada por me perdoares ahaha :')
Até logo
Bem, bem... suponho que sejas tu de quem a Marta me falou uma vez, como sendo um amigo que escrevia muito bem. Estou impressionada, confesso. Os conterrâneos tendem a desiludir-me, mas há sempre alguém à espera de se nos revelar. Parabéns!
Nem mais. Ainda se espantam, pelo facto de aqueles que pensam um pouco mais quererem outro lugar. Mais cosmopolita. É inevitável.
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